Thursday, May 26, 2016

I Want Out - Helloween

Esta música é uma daquelas que me acompanhou desde sempre: E é o bom da música é que ela acompanha-nos sempre na nossa vida, numa série de situações diferentes. Esta música consegue fazer isso na perfeição. Já é um mito - de tal forma que por vezes pergunto-me se será mesmo verdade - que era um recado por parte de Kai Hansen aos restantes membros dos Helloween, que ele estava farto. E como é possível verificar na própria letra, existem muitas situações onde isto se pode encaixar, muitas situações que vivi e que de certeza todos nós vivemos. A moral da história, por assim dizer, é que temos valor e que há uma altura em que temos que acreditar em nós próprios e lutar por aquilo que merecemos. Seja para deixar uma banda no pico de forma (algo que nunca conseguiram recuperar totalmente) e começar do zero, para deixar uma relação ou para deixar um emprego. Sem rede, sem nada a não ser o coração a guiar. I Want Out é o grito do ipiranga que todos nós devemos ter sempre que o nosso coração grita por liberdade.

From our lives' beginning on
We are pushed in little forms
No one asks us how we like to be

In school they teach you what to think
But everyone says different things
But they're all convinced that
They're the ones to see

Bridge:
So they keep talking and they never stop
And at a certain point you give it up
So the only thing that's left to think is this

Chorus:
I want out--to live my life alone
I want out--leave me be
I want out--to do things on my own
I want out--to live my life and to be free

People tell me A and be 
They tell me how I have to see
Things that I have seen already clear

So they push me then from side to side
They're pushing me from black to white
They're pushing 'til there's nothing more to hear

Bridge:
But don't push me to the maximum
Shut your mouth and take it home
'Cause I decide the way things gonna be

Chorus:
I want out--to live my life alone
I want out--leave me be
I want out--to do things on my own
I want out--to live my life and to be free

There's a million ways to see the things in life
A million ways to be the fool
In the end of it, none of us is right
Sometimes we need to be alone

(Solo: Kai/Both)

No no no, leave me alone

Chorus:
I want out--to live my life alone
I want out--leave me be
I want out--to do things on my own
I want out--to live my life and to be free

Monday, December 28, 2015

F.M.I. - José Mário Branco

Quando o F.M.I. chegou outra vez ao nosso país nos últimos anos, esta música voltou a estar na berlinda, mas confesso que ela tinha-me chegado antes e que embora me tivesse conquistado não só pelo retrato da realidade portuguesa (embora de uma realidade totalmente diferente mas ainda assustadoramente real, porque por muito que as coisas mudem, elas ficam sempre na mesma) mas principalmente pelo retrato interior de alguém que tem nas palavras a sua maior força, na capacidade de sonhar a sua inevitabilidade e no viver na sociedade presente o seu maior desafio. Esta é sem dúvida uma das grandes músicas da minha vida, com uma força incomparável. Com troika ou sem troika, esta será uma música que fará sempre sentido para mim.

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com o José Cacila que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio 'Roulant' preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma 'Graciv Morn' (??) de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.


Wednesday, September 2, 2015

Walk - Pantera

Os Pantera foram uma banda que na sua segunda fase nos trouxeram muitas músicas clássicas e inovadoras. É difícil uma banda conseguir romper com o passado e mesmo assim soar clássico e foi o que cada um dos álbuns da banda texana nos trouxe, até mesmo o seu último trabalho, nitidamente menos inspirado que os anteriores. Uma das grandes representações dessa capacidade de romper com o passado e ao mesmo tempo conseguir soar refrescante é sem dúvida Walk. O riff, como a marca universal e cartão de apresentação é clássico. As letras, tão cheias de raiva e tão lá no sítio, que ainda hoje nos fazem levantar os braços em consonância quando se ouve Phil Anselmo a cantar "Res. Pect. Walk!". E o solo, apenas mais uma demonstração do monstro da guitarra que era Dimebag Darrel. É a perfeição a conjugar-se em forma de música e a representação daquilo que uma música de heavy metal deve ser. Agressiva, raivosa, marcante. Walk!


Can't you see I'm easily bothered by persistence
One step from lashing out at you...
You want in to get under my skin
And call yourself a friend
I've got more friends like you
What do I do?


Is there no standard anymore?
What it takes, who I am, where I've been belong?
You can't be something you're not
Be yourself, by yourself
Stay away from me
A lesson learned in life
Known from the dawn of time


Respect, walk
What did you say?
Respect, walk
Are you talking to me?
Are you talking to me?

Run your mouth when I'm not around
It's easy to achieve
You cry to weak friends that sympathize
Can you hear the violins playing your song?
Those same friends tell me your every word


Respect, walk
What did you say?
Respect, walk
Are you talking to me?
Respect, walk
What did you say?
Respect, walk
Are you talking to me?
Are you talking to me?

No way, punk

Respect, walk
What did you say?
Respect, walk
Are you talking to me?
Respect, walk
What did you say?
Respect, walk
Are you talking to me?
Are you talking to me?

Walk on home, boy!


Sunday, March 29, 2015

Fever - Peggy Lee

Se existir uma música que consiga misturar mistério, sensualidade, um factor de hipnose e até um certo peso que não ficaria muito longe  - atenção que estamos a falar de uma música da década de 60 - essa música é sem dúvida, Fever. Já muitas bandas, cantores e cantoras fizeram versões dela, nas mais variadas versões, mas o original continua a ter um encanto fantástico. É sem dúvida um grande tema, imortal, que define melhor que outra qualquer o desejo e paixão por alguém. Swing próprio do jazz e uma classe imbatível, está aqui uma música que apesar de a ter ouvido pela primeira vez num filme de Jerry Lewis (O Homem das Mulheres se não estou em erro) e desde aí que me acompanhou até hoje, até mesmo agora enquanto escrevo estas palavras, a voz sedutora de Peggy Lee continua a assombrar-me, tal como vez na última semana, quando decidi que deveria escolher este tema aqui para a biblioteca de músicas especiais, assim como vai ficar durante tempo indeterminado. Não há nada a fazer a não ser bater o pé e estalar os dedos ao ritmo do contrabaixo. 

Never know how much I love you
Never know how much I care
When you put your arms around me
I get a fever that's so hard to bear

You give me fever when you kiss me
Fever when you hold me tight
Fever in the mornin'
Fever all through the night


Sun lights up the day time
Moon lights up the night
I light up when you call my name
And you know I'm gonna treat you right

You give me fever when you kiss me
Fever when you hold me tight
Fever in the mornin'
Fever all through the night

Everybody's got the fever
That is somethin' you all know
Fever isn't such a new thing
Fever started long time ago


Romeo loved Juliet
Juliet she felt the same
When he put his arms around her
He said, "Julie baby you're my flame"
Thou givest fever, when we kisseth

Fever with thy flaming youth
Fever I'm on fire
Fever yea I burn forsooth


Captain Smith and Pocahontas
Had a very mad affair
When her daddy tried to kill him
She said "Daddy oh don't you dare"
"He gives me fever with his kisses"
"Fever when he holds me tight"
"Fever, I'm his missus"
"Daddy won't you treat him right?"

Now you've listened to my story
Here's the point that I have made
Chicks were born to give you fever
Be it Fahrenheit or centigrade
They give you fever when you kiss them

Fever if you live and learn
Fever till you sizzle

What a lovely way to burn
What a lovely way to burn
What a lovely way to burn
What a lovely way to burn




Saturday, December 27, 2014

Asking More - Procyon

Som manhoso. Heavy metal primitivo pelo menos para nós portugueses. Numa altura em que o heavy metal era novo no nosso país e que ainda não se tinha institucionalizado que era uma coisa de drogados e satânicos, não pelo menos de uma forma geral. Numa altura em que a RTP 2 (na altura TV2) passava vídeos de metal, antes de Moonspell ter explodido lá fora, num tempo em que os Tarântula eram a face mais vísivel do heavy metal nacional, existia um underground, ainda que não comparável ao que temos hoje em dia em número de sítios para concertos ou até mesmo na oferta de concertos, que tinha uma série de bandas novas a surgirem. Uma dessas bandas foram os Procyon que tocavam um heavy metal com tiques de thrash de qualidade ímpar. Não em termos de som, que é precário por aquilo que podem comprovar neste videoclip, mas em termos de composição, que apesar de revelar toda a sua ingenuidade, é mesmo essa ingenuidade e um feeling genuíno, um amor verdadeiro para com este som que faz com que esta primeira demo - uma demo com direito a videoclip, algo bastante raro para não dizer inédito - seja um tesouro para a história do nosso undergound nacional. E aquele solo... quantas vezes ele não passou em loop... clássico!

Wednesday, October 15, 2014

Twist And Shout - The Beatles

Esta deverá ter sido a primeira música dos Beatles pela qual me apaixonei, isto sem saber sequer que era deles. Tudo por causa de um momento do filme O Rei dos Gazeteiros, em que o Mathew Broderick, em pleno dia de Gazeta, dá espectáculo num desfile em Nova Iorque, a cantar duas músicas, uma delas, este clássico rock’n’roll da mais famosa banda do estilo de sempre. Não é propriamente a música mais clássica deles, mas sem dúvida que é um tema que tem tudo aquilo que representa o que é o verdadeiro rock’n’roll, próprio do espírito norte-americano e claro, como tal, nascido a partir de um grupo inglês. Pode ter mais de um século de vida, mas continua a despertar em mim o mesmo entusiasmo que despertou na primeira vez que ouvi e continua a ser uma das músicas, ainda que de uma forma muito primitiva, que tem os elementos que me levaram a apaixonar pela sonoridade da guitarra. Basta ouvir para perceber o porquê.

Well, shake it up, baby, now (Shake it up, baby)
Twist and shout (Twist and shout)
C'mon c'mon, c'mon, c'mon, baby, now (Come on baby)
Come on and work it on out (Work it on out)

Well, work it on out, honey (Work it on out)
You know you look so good (Look so good)
You know you got me goin', now (Got me goin')
Just like I knew you would (Like I knew you would)

Well, shake it up, baby, now (Shake it up, baby)
Twist and shout (Twist and shout)
C'mon, c'mon, c'mon, c'mon, baby, now (Come on baby)
Come on and work it on out (Work it on out)

You know you twist your little girl (Twist, little girl)
You know you twist so fine (Twist so fine)
Come on and twist a little closer, now (Twist a little closer)
And let me know that you're mine (Let me know you're mine)

Well, shake it up, baby, now (Shake it up, baby)
Twist and shout (Twist and shout)
C'mon, c'mon, c'mon, c'mon, baby, now (Come on baby)
Come on and work it on out (Work it on out)

You know you twist your little girl (Twist, little girl)
You know you twist so fine (Twist so fine)
Come on and twist a little closer, now (Twist a little closer)
Aand let me know that you're mine (Let me know you're mine)

Well, shake it, shake it, shake it, baby, now (Shake it up baby)
Well, shake it, shake it, shake it, baby, now (Shake it up baby)
Well, shake it, shake it, shake it, baby, now (Shake it up baby)

Monday, July 7, 2014

Dyers Eve - Metallica

Metallica, para mim, mais do que pela música, sempre se distinguiram pelas letras poderosas e isso teve uma relação inversa em relação à música, isto é, conforme a música ia suavizando, as letras ficando cada vez mais certeiras a lidar com problemas e demónios interiores, dos quais haverá por parte dos apreciadores mais ou menos identificação – esta teoria só tem fundamento se esquecermos a infelicidade que foi o St. Anger e uma ou outra excepção.
Dyers Eve é um poço de agressividade complexa que bate certo, em tudo, com o seu conteúdo lírico. Resumidamente, poderá dizer-se que se trata de uma declaração por parte de um adolescente aos seus pais, mas é sentido como um grito de revolta mudo, um grito que provavelmente Hetfield deu muitas vezes em silêncio e que muitos jovens deram em direcção aos seus pais, no seu quarto, à porta fechada, sem que ninguém os pudesse ouvir, ninguém a não ser o próprio Hetfield a vociferar pelas colunas. É certo que a produção deste álbum é um caos, fruto de um certo rumo à deriva por parte da banda no que diz respeito às gravações, mas em termos de composição, é um dos de topo e Dyers Eve não escapa  a esse facto. Um grande  tema que seja ouvido em que altura for é impossível não gritar “Dear Mother, Dear Father…”

Dear Mother
Dear Father
what is this Hell you have put me through?
Believer
Deceiver
Day in, Day out live me life through you
Pushed onto me what's wrong or right
Hidden from this thing that they call life

Dear Mother
Dear Father
Every thought I'd think you'd disapprove
Curator
Dictator
Always censoring my every move
Children are seen but are not heard
Tear out everything inspired
Innocence
Torn from me without your shelter
Barred reality
I'm living blindly

Dear Mother
Dear Father
Time has frozen still what's left to be
Hear Nothing
Say Nothing
Cannot face the fact I think for me
No guarantee, it's life as-is
But damn you for not giving me my chance

Dear Mother
Dear Father
You've clipped my wings before I learned to fly
Unspoiled
Unspoken
I've outgrown that ... lullaby
Same thing I've always heard from you
Do as I say, not as I do

Innocence
Torn from me without your shelter
Barred reality
I'm living blindly

I'm in hell without you
Cannot cope without you two
Shocked at the world that I see
Innocent victim, please rescue me

Dear Mother
Dear Father
Hidden in your world you've made for me
I'm seething
I'm bleeding
Ripping wounds in me that never heal
Undying spite I feel for you
Living out this hell you always knew

No!